sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Cerca de Al-Usbuna

Pensava eu que conhecia bem esta Lisboa, quando num belo dia de Outono, passeava pelo bairro de alfama e deparei-me com uma situação algo caricata. Um grupo de turistas, fotografava e trocava de opiniões entre si, super entusiasmados sobre algo que me pareceu ser vestigios de uma antiga torre que pertencia à velha muralha romana de defesa da cidade. Para quem não sabe, Lisboa antes de existir, mais concretamente no bairro de alfama existiu uma primeira defesa romana contra invasões. Isto eu sabia...o que não sabia era que esse local havia sido uma antiga cidade fortificada que teve cerca de 30 mil habitantes e sofreu ataques dos muçulmanos, lusitanos e até de Vikings, entre o século III e V.

A Cerca Moura, ou mais conhecida "Cerca velha", foi construida pelos romanos no século III.

O 1º vestigio que aguçou o meu apetito por esta história, foi a famosa TORRE DE ALFAMA




Fonte:
“Lisboa Muçulmana - Um espaço urbano e o seu território” Arqueologia Medieval 7

Torre de Alfama, poderá ser uma torre albarrã (do árabe barrani) ou uma torre couraça, que ainda hoje se mantém, na sua quase totalidade, ligada à muralha principal por um pano de muro com 26m de comprimento, o qual é bem visível na rua da Judiaria. Esta torre protegia a entrada para o interior da Medina, que era conhecida em época árabe como Bab al-Hamma, Porta dos Banhos. Este nome explica a etimologia de Alfama, visto que, perto desta entrada da cidade, estariam localizados, muito provavelmente, os banhos públicos (Hammam) de Al-Ušbuna. Na realidade, ainda hoje, esta zona específica de Alfama é rica em fontanários, aí existindoTambém alguns balneários públicos.

A muralha original foi provavelmente erigida no oura de Lisboa, é um monumento nacional que consiste nos vestígios da estrutura defensiva que ainda período tardo-romano (séc III-V) e depois muito possivelmente aproveitada e reforçada no período islâmico (sécs.VIII-XII), sobretudo no século X, após o saque de Ordonho III à cidade. A muralha que defendia Al-Ušbuna teria, segundo Augusto Vieira da Silva,aproximadamente 1250m de comprimento na sua extensão total, 2m a 2,5m de espessura e abrangia no seu interior uma área de aproximadamente 15,6 hectares. Sendo assim, a área total de Al-Ušbuna, aquando do seu apogeu em finais do séc. XI, seria aproximadamente 30 hectares, juntando à já referida área intramuros dois arrabaldes com uma área conjunta de 15 hectares.

Outro factor interessante foi constatar que os inumeros arcos, lindos por sinal, eram afinal portas de entrada desta fortificação que separavam a povoação...da praia...!
Por exemplo, este famoso ARCO DE JESUS que conhecia muito bem.




Arco de Jesus,
Segundo Vieira da Silva, o Arco de Jesus parece ter sido uma das antigas portas, que dava passagem entre a praia e o interior da cidade. No período islâmico esta porta seria denominada Bab al-Madiq,
porta do estreito. Os registos escritos indicam que, aquando do cerco de Lisboa pelos castelhanos em 1373, já existiria neste local uma entrada para a cidade, chamada porta du furadoiro. Além disso, sabemos com certeza que, em 1588, existia aqui um arco com a denominação actual de Arco de Jesus. Em 1755, quando se deu o terramoto, este arco tinha, de um lado, os palácios de Francisco
de Távora e, do outro, o palácio do Conde de Coculim. No Arco de Jesus existiriam compartimentos que pertenceriam a ambos os palácios, dividindo-se por cima do arco, tal como se pode observar ainda hoje.


A Cerca Moura é constituída por três lanços de muralha, dos quais apenas algumas partes
permanecem hoje de pé, algumas ocultas por construções posteriores e outras à vista de quem passa. Os três lanços constituem-se por: o ocidental, da Ribeira até ao Castelo, com aproximadamente
350m; o sul, ao longo do rio Tejo, entre a rua da Padaria e o Chafariz de El-Rei, com cerca de 460m; o oriental do dito chafariz até ao Castelo, com 440m. Destes lanços, o que se apresenta em melhor estado de conservação, e o que pode até provocar algumas agradáveis surpresas a quem o procura, é o lanço oriental.
Esta estrutura defensiva teve alguns momentos de relevo na história da cidade, pois, além das guerras e cercos que com certeza aconteceram ainda em época romana e visigótica, sabemos com mais algum pormenor a sua história na época árabe. Entre 714 e 716, Al-Ušbuna, com muita certeza defendida pelo castelo e por uma muralha em volta da cidade, é tomada, aparentemente, por Abd al-Aziz, filho de Musa. Desde então, uma minoria muçulmana impõe-se no governo da cidade até 1147; todavia, entre estas datas, Lisboa foi atacada e até mesmo conquistada, quer por Vikings quer pelo Rei Afonso II, além de ter sido refúgio e local de revolta dentro do próprio domínio muçulmano.

Mapa da Cerca



Legenda

1- Casa dos Bicos

2 - Arco das Portas do Mar (antiga torre)

3 - arco escuro - porta do mar (Bab al-Bahr)

4 - Porta de Ferro - Porta do Ocidente (Bab al Garb) ou Porta Maior (Bab al-Kabir)

5 - Porta da Alfôfa (Bab al-Hawha)

6 - Pátio de D. Fradique

7 - Porta do Sol (Bab al-Maqbara)

8 - Pátio das Oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo

9 - Pátio da Senhora de Murça

10 - Porta e torre de Alfama

11 - Rua da Judiaria (judiaria pequena)

12 - Chafaris de El-Rei

13 - Arco de Jesus - Porta do Estreito (Bab al Maliq)

Portanto meus amigos, da próxima vez que forem a alfama...qual fado, qual sardinha, qual Sé....

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